domingo, 5 de abril de 2009

Espelho, espelho meu!




Um pouco distante de onde estava, uma mulher conseguiu avistar algo brilhoso numa sala semi-escura. Aproximou-se dali e viu um espelho, mas por algum motivo, hesitou antes de chegar mais perto, talvez porque estivesse com medo da escuridão. Ascendeu uns restos de velas, que estavam ali, para tentar vê a imagem que se esboçava a sua frente.

Ela via, desfocadamente, uma linda mulher. Fixou seus olhos na imagem da boca, viu aqueles lábios que não eram carnudos, mas, perfeitamente desenhados. Ela, curiosamente, começou a se perguntar se esses lábios já haviam provado do sabor do amor. Imaginava que sim, pois como poderia uma boca tão bela não ter sentido o doce gosto do prazer? Seria desesperador!
Ela via, melhor, ora uma coisa ora outra, devido à luz do fogo da vela que se balançava. Foi quando observou olhos com um brilho intenso, viçosos, mas, que transmitiam, no fundo, algo amargo – um sofrimento.
A mulher, intrigada, começou a tentar compreender como alguém conseguiria esconder coisas ruins por trás de disfarces tão fantásticos. Como algo tão belo poderia ser tão sofrido. Antagônico?! Pensou ela.
Sentiu-se angustiada, queria compreender aquela mulher do espelho, mas, não entendia por que se sentia tão mal com aquela situação.
Ficou estática em direção ao espelho, quando percebera o óbvio − o que estava refletido era a sua própria imagem. Uma lágrima caiu.
Aproximou-se, furiosamente, para mais perto do espelho e jogou sobre ele um castiçal velho.
As lágrimas não paravam de cair, começou a gritar “espelho, espelho meu!” Não aceitava a intromissão do espelho em mostrar-lhe tudo aquilo que sabia, mas que escondia nas profundezas dos seus sentimentos.

Ela não queria mais saber, enxugou as lágrimas, arrumou o cabelo e saiu pela sala como se nada tivesse acontecido, mais uma vez.

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