sexta-feira, 1 de maio de 2009

Meses atrás


O meu corpo não consegue parar. Estou sentindo tudo e ao mesmo tempo nada.

Mais um dia, mais um dia de ócio – no seu pior sentido.

Se eu tivesse no meu velho mundo ou no meu mundo velho, aposto que nada disse estaria acontecendo.

As pessoas são diferentes e eu sou diferente com as pessoas.

Não consigo ter paciência nem sequer com aquele belo sorriso que vejo quase sempre, não consigo ouvir uma desfeita daquela cabeça que quase pensa como a minha, não consigo ouvir o acalento nem mesmo do meu próprio coração, que suplica, que tenta guardar a emoção.

É uma mistura do biológico, todas as mulheres têm ou já tiveram esses dias, com meu psicológico.

Passo o dia aqui, neste meu recanto de alguns poucos metros retangulares. Não o dia todo, é que às vezes ando por lugares interessantes, por exemplo, um que tenho que ir mesmo. Lá, aprendo coisas sobre as pessoas, um outro, que por sinal aconselho todos irem, é bem prazeroso, lá sempre tem algo calórico para se ingerir e matar esse deleite oral. Vou, também, num ambiente cheio de detalhes. Tem assento, mesa, toalhas e espelhos. Um lugar necessário, eu diria. Assim saiu, saiu de dentro do meu cubículo.

Vivo nesse ciclo e quando não dá mais, quando chegam àqueles dias, desses que estou vivendo, sinto tanta saudade! Saudade de voar como antigamente. Voar para o centro da cidade.

Aquele frio no corpo, aquele coletivo vazio, com apenas a gente, passeando pela cidade. Movimento, pessoas. Tudo é tão vivo e eu sinto falta de viver, de viver isto.

Não agüento, não hoje, ouvir ‘um outro talvez ou um quem sabe’.

É tão difícil sair de casa? Acho que pra uns, sim. É tão difícil se divertir? Pensei que não, mas é o que tenho visto muito. E se a tendência é piorar, baby, eu não quero viver isso, se é que me entendes.

Cansei!

Não adularei mais ninguém. Onde já se viu?! Adular para se divertir? Não entendo e nem quero entender. E não te condeno por não seres como eu, apenas fico feliz por não ser como tu és – nesse aspecto, eu digo.

Ainda sem sair desse meu lugar, que não é somente meu, eu penso, escrevo e sinto saudade.

Saudade daquele tempo em que víamos as luzes da cidade, sentíamos o cheiro das pessoas e as cores da vida.

Tempo bom que vivi, tempo bom que viverei, só que, agora, com outras personagens.

domingo, 5 de abril de 2009

'Maldita' subjetividade


Meu mundo é somente meu. Mesmo que eu queira, nunca poderás sentir exatamente como eu sinto.

Teu mundo é somente teu e ninguém mais tem entrada garantida nele. Mesmo assim, passo tempo me aventurando em adivinhar o que tu pensas e sentes.

Sim, meus pensamentos seguem em direção a ti, como ondas magnéticas que se propagam pelo espaço numa mesma direção, e eu fico, aqui, arriscando saber quem és. Na verdade, tento perceber-te além daquilo que meus olhos vêem. Quero e preciso saber o que existe aí, dentro de ti, em relação a mim.

Não pense, querido, que seja egoísmo. É que não consigo continuar nessa ansiedade de ficar nos imaginando sem saber se ao menos pensas em mim.

Queria tanto que pudesses entrar no fantástico mundo dos meus sentimentos e perceber o mundo que construí. Mas não penses que tracei um destino só nosso e que o que eu sinto seja amor. Não, baby, não é disso que estou falando.

Confesso que dentro de mim há uma mistura de sentimentos e no fim não sei, ao certo, o que estou sentindo. Mas depois de pensar tanto em ti, chego à conclusão que o que me impulsiona a estes pensamentos é a dúvida de não saber o que se passa aí, nesse teu mundo, culpa dessa tua ‘maldita’ subjetividade. É ela que não me deixa parar de sonhar de olhos abertos contigo.


Espelho, espelho meu!




Um pouco distante de onde estava, uma mulher conseguiu avistar algo brilhoso numa sala semi-escura. Aproximou-se dali e viu um espelho, mas por algum motivo, hesitou antes de chegar mais perto, talvez porque estivesse com medo da escuridão. Ascendeu uns restos de velas, que estavam ali, para tentar vê a imagem que se esboçava a sua frente.

Ela via, desfocadamente, uma linda mulher. Fixou seus olhos na imagem da boca, viu aqueles lábios que não eram carnudos, mas, perfeitamente desenhados. Ela, curiosamente, começou a se perguntar se esses lábios já haviam provado do sabor do amor. Imaginava que sim, pois como poderia uma boca tão bela não ter sentido o doce gosto do prazer? Seria desesperador!
Ela via, melhor, ora uma coisa ora outra, devido à luz do fogo da vela que se balançava. Foi quando observou olhos com um brilho intenso, viçosos, mas, que transmitiam, no fundo, algo amargo – um sofrimento.
A mulher, intrigada, começou a tentar compreender como alguém conseguiria esconder coisas ruins por trás de disfarces tão fantásticos. Como algo tão belo poderia ser tão sofrido. Antagônico?! Pensou ela.
Sentiu-se angustiada, queria compreender aquela mulher do espelho, mas, não entendia por que se sentia tão mal com aquela situação.
Ficou estática em direção ao espelho, quando percebera o óbvio − o que estava refletido era a sua própria imagem. Uma lágrima caiu.
Aproximou-se, furiosamente, para mais perto do espelho e jogou sobre ele um castiçal velho.
As lágrimas não paravam de cair, começou a gritar “espelho, espelho meu!” Não aceitava a intromissão do espelho em mostrar-lhe tudo aquilo que sabia, mas que escondia nas profundezas dos seus sentimentos.

Ela não queria mais saber, enxugou as lágrimas, arrumou o cabelo e saiu pela sala como se nada tivesse acontecido, mais uma vez.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Depois de algumas 'taças' de vinho...



Noite agitada, garrafas de vinho no chão. Lá está ela, numa sala vermelha e cheia de pessoas.

O som da música tocando, como um pano de fundo, gente falando. Amigos reunidos, baralho na mesa e um violão na mão. É uma festa e ela adora festas.

O Tempo passa e a quantidade de garrafas espalhadas pela casa só aumenta. Tudo fica confuso, ninguém está em sua sã consciência, ou teria alguém? Ela não sabe. Apenas reconhece que, depois de mais alguns copos, tudo aquilo que está vendo encontra-se meio distorcido. Está tonta!

A noite se esconde e começa nascer o dia. Muitos se vão, quando, então, ela corre para a sacada para deitar-se numa rede e sentir a paz que a brisa da manhã traz consigo – mas o que Deus lhe preparou foi algo maior. Deita-se e vê o nascer do sol – uma das coisas mais lindas que já pudera ter visto. O Sol, numa cor que mistura amarelo com vermelho, bastante redondo e grande, não se esconde em lugar algum. Lá, está ele demonstrando toda a sua grandeza e isso é tudo que ela precisa saber neste instante. Ele vivificou aquela alma, até posso sentir. Este momento está sendo tão sublime e é apenas dela – ela e o sol, o sol e ela. Talvez meu também.

As horas passam, o tempo corre. Ela precisa voltar, mas a vontade de ficar é forte, seus pés estão fincados naquele piso de madeira.

Em casa, jogou-se sobre seu aconchego diário. Numa sensação estranha, boa, percebo que ela gostou, tudo estava rodando em sua cabeça, ela via círculos grandes e pequenos ao mesmo tempo, não sei explicar, uma espécie de alucinação. Mas o cansaço é grande, agora ela dorme. Depois de umas horas, ela acorda e parece desnorteada. Com essa cara, acho que ela está pensando que já são quase 5 horas da tarde. E ela não almoçou, deve ser esse o motivo. Seus pêlos estão arrepiados, de onde vem este frio? Ela diz: ‘Como vim parar na Antártida?!’ Não entendi. Mas ela tem certeza que está neste continente – ela não faz questão de saber como ali foi parar, só quer um agasalho.

Abriu os olhos, viu o relógio que mal havia rodado – duas rotações de 360º, talvez. Resolve se levantar. Percebeu que nunca havia saído daquele cantinho. Aliviada, lembra das ‘taças’ de vinho martelando em sua cabeça.