domingo, 4 de abril de 2010

As certezas religiosas, hoje, parecem uma tanto quanto incertas.


Como um papel em branco, ela se sente vazia. “Feliz Páscoa!”, todos dizem, mas ela não consegue notar a diferença entre dez dias atrás e a data de hoje. Talvez se ela não tivesse tido a educação ocidental sobre religião, ela não estaria se sentindo confusa.

Aprendeu sobre todas as datas cristãs, mas hoje em dia não sabe dizer exatamente quando se comemora estes festejos, a não ser o Natal, claro!


Anos passados e ela se encontrava ali, no meio da congregação. Sentir o calor humano e a presença de Deus lhe bastava. Não era simplesmente reconhecer a grandeza do Grandioso, mas render-lhe adoração. E neste momento, isso era a verdade para ela. Mas numa dança com o destino, ela foi percebendo que tudo está à mercê da mudança, inclusive ela.


Naturalmente, as coisas que ela adorava foram perdendo a intensidade. O que lhe era certeza hoje se encontra como dúvida. Uns dizem que é coisa da idade, outros falam que foi por causa da faculdade, outros colocam culpa no curso, mas ela sabe que a soma das experiências vividas até o dia de hoje produziu este latente.


Não é acreditar que Deus não exista, mas duvidar do que o homem tem feito da imagem dEle. Ela se pergunta por que a religião cristã é a certa e, ainda, quer saber por que há tanto viés sobre o Deus Único. As crenças vão se delimitando e cada uma se vê como detentora da verdade, pois, para além das fronteiras dos dogmas criados, não existe veracidade, aceite todas as idéias dessa religião, não reflita, se converta e salve a sua alma, pois essa é A verdade e assim terás o que Deus prometeu.


Uma vez lendo Freud, ela se deparou com algo que lhe pareceu um absurdo, hoje ela já coloca a citação como uma possibilidade. O famoso psicanalista dizia que a religião é uma espécie de suprimento para o nosso eterno vazio e somente isso. Ela vê quão necessário é ter algo melhor como promessa de futuro, pois, do contrário, não nos moveríamos em frente e a religião desempenha muito bem esse papel, saber que teremos os céus, a terra que manda leite e mel, vida eterna...

Mas ao se lembrar dos momentos que vivera, das sensações que tivera, ela ver o quanto é inexplicável a paz de se estar na presença de Deus, de bendizer o sEu nome. Ela não sabe, eu não sei, são tantas coisas maravilhosas que o Senhor faz e fez por ela que seria uma ignorância acreditar que vieram do acaso ou da coincidência do destino e dar todo o “mérito” às partículas do Big Bang e não para o Criador.


E se essas sensações não passarem de produções cerebrais? O cérebro é um dos órgãos mais enigmático! Sim, ele é capaz de provocar os mais diversos efeitos. Efeito placebo, alucinações, delírios, satisfação, necessidade...


A fé seria uma produção orgânica? Seria uma necessidade social, ou seria algo divino? Ela não tem resposta, só sabe que está numa confusão que não vem de hoje, só porque é Páscoa, e que se prolongará caso busque, em outros olhares, outras explicações, principalmente se mudar de país. Mas independente do que seja a fé, a religião, Deus, ela se vê sem rotulações, ela apenas quer o respeito, para si e para todos, ela deseja que cada um desenvolva suas mais altas possibilidades, quer apenas o amor, quer apenas amar, quer adorar o criador da vida, seja ele o bom samaritano, Deus, Elohim, Kadosh, Shadday... Pois para ela, independente do nome ou da história, ela sabe que existe algo infinitamente maior.

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